As Três Peneiras de Sócrates: Um Filtro para as Palavras no Mundo Atual

Em tempos de redes sociais, mensagens instantâneas e julgamentos apressados, o velho ensinamento atribuído a Sócrates parece mais atual do que nunca. Trata-se da história das Três Peneiras, uma breve parábola que convida à reflexão antes de falar sobre o outro. Mais que um conto antigo, é um exercício de ética, empatia e responsabilidade com o que dizemos.

O Encontro com Sócrates

Conta-se que um discípulo se aproximou do filósofo ateniense, apressado e ansioso:

— Mestre, preciso contar algo sobre um amigo!

Antes que ele pudesse prosseguir, Sócrates o interrompeu com tranquilidade:

— Espere. Antes de dizer qualquer coisa, vamos passar suas palavras pelas Três Peneiras.

O jovem, confuso, perguntou:

— Três peneiras?

— Sim — disse Sócrates —. A primeira é a peneira da verdade. O que você vai me contar é absolutamente verdadeiro? Você verificou os fatos?

O rapaz hesitou:

— Bem… não sei ao certo. Ouvi de alguém…

— Então não sabe se é verdade. Vamos à segunda peneira: a peneira da bondade. O que você quer me dizer é algo bom?

— Não, muito pelo contrário…

— Hum… — disse o filósofo —. E a terceira peneira: a peneira da utilidade. É útil saber disso? Vai servir para algo importante?

— Creio que não…

Com um leve sorriso, Sócrates concluiu:

— Se não é verdadeiro, nem bom, nem útil, por que dizer-me isso?

A Sabedoria das Peneiras

O que pode parecer apenas uma historieta moral ganha profundidade quando aplicado à vida moderna. Quantas vezes propagamos rumores, opiniões precipitadas ou críticas infundadas? Em um mundo onde a velocidade da informação supera sua verificação, falar por impulso se tornou comum — e perigoso.

As três peneiras são um convite à responsabilidade do discurso. Elas nos pedem uma pausa, um exame interno, uma postura mais consciente sobre o impacto do que dizemos.

1. É verdadeiro?

Antes de compartilhar algo — seja uma informação, uma crítica ou uma opinião — precisamos perguntar: “Tenho certeza disso? Verifiquei os fatos?” Repetir algo apenas porque parece verdadeiro é uma armadilha perigosa.

2. É bom?

Não se trata de suavizar tudo, mas de avaliar a intenção por trás das palavras. Queremos edificar ou apenas julgar? É possível criticar com empatia e corrigir com respeito, mas espalhar maldade por maldade nunca trouxe avanço algum.

3. É útil?

Mesmo que algo seja verdadeiro, pode não ser necessário dizê-lo. Às vezes, o silêncio é mais produtivo. Nem tudo que sabemos precisa ser dito, especialmente se não contribuir com soluções, crescimento ou aprendizado.

Por que esse ensinamento ainda importa?

Em um tempo em que se valorizam likes, curtidas e viralizações, a ética no uso da palavra é um ato de resistência. Falar com verdade, bondade e utilidade não é apenas uma questão moral — é uma escolha de humanidade. É proteger as relações, cultivar confiança e construir um ambiente em que o diálogo seja possível e respeitoso.

As Três Peneiras de Sócrates não pedem silêncio, mas consciência. Elas não censuram a fala, mas iluminam seu caminho. Afinal, quando falamos do outro, falamos também de quem somos.


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